terça-feira, 23 de junho de 2009

O repórter Flávio Luz esteve na escola de samba Vai Vai para registrar o incrível trabalho realizado no local, com meninos carentes da comunidade. Confira no vídeo abaixo momentos das aulas de percussão semanais, ministradas pelo músico e ator Bocão:

Imagens: Caroline Zeine

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Música e Cidadania

Já é de conhecimento geral o valor da música como agente transformador de ânimos e situações. Basta lembrar do famoso chavão “quem canta os males espanta”, porém, são poucos os que associam a música com seu poder de transformar a sociedade, conferindo valores e dignidade à jovens carentes, que através de sons e danças tornam-se efetivamente cidadãos, integrados à comunidade.

Por meio das entrevistas realizadas com os profissionais das Instituições citadas, percebe-se que estes são movidos pela certeza de que estão fazendo algo pelo Brasil, país carente em atividades culturais. Quando questionados sobre qual o significado de desenvolver um projeto cultural num país que monopoliza a cultura do espetáculo,
José de Oliveira Santos, professor de História e educador popular, diz"o significado da realização dos projetos culturais é combater a tentativa de empobrecimento ético e estético que a industria cultural nos impõe". E Murilo Alves, do Projeto Ciranda, finaliza: “significa (...) preencher a lacuna deixada por uma política cultural que fornece o efêmero a uma comunidade e que não se preocupa em desenvolver nesta comunidade a mínima possibilidade de desenvolvimento pleno”.

É com o intuito de apresentar este aspecto da música, que corresponde à missão de instituições como Projeto Ciranda, de Mato Grosso,
Casas Taiguara, Escola de Samba Vai-Vai e Meninos do Morumbi, todas de São Paulo, que teve realização essa reportagem. Afinal, esse não é o tipo de assunto que ocupa lugar nas discussões cotidianas.
Por Caroline Zeine, Flávio Luz, Priscila Ramires e Stefanie Francine

Conheça o professor José de Oliveira Santos

José de Oliveira Santos é professor de História e Educador Popular. Com 20 anos de experiência no trabalho com comunidade, mais conhecido como Zezito, iniciou a sua participação social, ainda adolescente, no Rio de Janeiro. quando participou de grupos de jovens e CEBs. No Estado de Sergipe participou da fundação da Associação dos Moradores do Bairro América (AMABA) e do Centro Sergipano de Educação Popular. Durante o período que esteve na AMABA coordenou o Projeto Reculturarte, que foi financiado durante seis anos pela agência de cooperação Visão Mundial e que se constituiu na primeira ação cultural permanente de uma entidade ligada ao movimento social. No período de 2001 até 2006, assessorou de forma voluntária o Projeto Ecarte ( Estatuto da Criança e do Adolescente com Arte) na área pedagógica e de gestão, Fez/faz formação em danças circulares. É um dos fundadores e foi diretor-presidente da ONG Ação Cultural (2004-2007). Atualmente é diretor do Complexo Cultural "O Gonzagão", equipamento cultural pertencente a Secretaria da Cultura do Estado de Sergipe (http://acaoculturalse.blogspot.com/)

Faltam incentivos fiscais no país, acredita Renee Amorim

Existe no País hoje a falta de incentivos à mobilização em prol de crianças e jovens carentes,o que pode ser comprovado pela quantidade de procedimentos burocráticos nesse âmbito. De maneira contrária ao que se passa em nosso país, onde não existe abatimento nos impostos de quem faz doações, nos Estados Unidos as doações têm 100% de abatimento nos impostos. Renee Amorim, coordenador de projetos das Casas Taiguara, acredita na disponibilização de incentivos fiscais como um fator de aproximação entre investidores, cultura e o público final, neste caso crianças e adolescentes.

De acordo com Amorim, as leis de incentivo para projetos culturais no Brasil avançaram muito. Ainda segundo ele, existe uma melhora no incentivo fiscal no sentido do governo abrir mão de parte do imposto de renda para que os contribuintes possam direcionar seu dinheiro para projetos culturais; já no caso de projetos sociais que envolvem projetos culturais, como as Casas Taiguara, a legislação ainda precisa amadurecer, pois existem poucos caminhos.

“O FUNCAD (Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente) só em 2008 arrecadou mais do que a soma de todos os anos anteriores, isso demonstra que há pessoas doando. Existe sim, a falta de outros meios para doações e de um sistema mais fácil que facilite o processo”, finaliza.


Por Priscila Ramires e Caroline Zeine

Professor Zezito escreve mensagem emocionante sobre a importância dos trabalhos beneficentes

Quem dera pudesse todo homem e (todas as mulheres) compreender oh! Mãe, Quem dera! Que o mundo precisa de gente que sejam as mãos, os pés, os olhos e o coração feminino de Deus que sofre por causa de tanto egoísmo, cobiça e ódio, fonte de tanta dor e sofrimento e que poderá tornar irreversível a existência das obra de arte de Deus - a terra, o ser humano e as outras espécies com as quais compartilhamos o planeta.
Que entendamos, o começo da solução está em nós e o começo passa pelo nosso coração, mas para isso necessitamos ser alimentados e produzirmos obras de arte que nos transmitam este amor maternal de Deus e o desejo dele de recriarmos o paraíso agora e refazermos o mundo como um jardim de mil delicias.
Quem dera pudesse todo homem e (todas as mulheres) compreender oh! Mãe, Quem dera!
Que para vermos Deus face a face a solução está em nos tornarmos cada vez mais humanos, porque foi a lição mais importante que seu filho Jesus nos legou, quando afirmou que ao dar de comer e de beber a quem tem fome é a Jesus Cristo que estamos saciando. Quando cuidarmos dos doentes e das crianças e dele que estamos cuidando. Quando visitarmos os presos é a Jesus Cristo que estamos visitando.
Que mais homens e mulheres possam encontrar Deus através do serviço do atendimento das necessidades humanas de todas as criaturas, como fez Jesus Cristo ao operar milagres, considerando que as carências humanas não são apenas de ordem material e aqueles que tem mais tempo, bens materiais, conhecimento ás vezes precisam de afeto, carinho, atenção e estas necessidades são satisfeitas ao abrirem mão de uma parte do seu tempo, dos seus bens materiais e dos seus conhecimentos.
Um dia vivi a ilusão que o mito do progresso material, às vezes manipulando o nome de Deus, tudo me daria. Também vivi a ilusão que somente a explicação racional e cientifica do mundo é suficiente para dar conta de tantos segredos e mistérios escondidos dentro do meu ser e no universo.
O Deus que habita em mim, cumprimenta o Deus que está em você, não importa em qual nome você o cultua, não importa nem mesmo se você tem fé, se demonstrares em ações o seu amor pela humanidade, pelos seres vivos e pelo planeta, Deus habita em você e eu os reconheço através de suas atitudes “humanas”, para mim e para Deus é o que faz sentido.
Ao escrever este texto, lembrei-me das seguintes obras de arte: Guernica de Picasso, Super-Homem de Gilberto Gil, Sol de Primavera de Beto Guedes, Canção de Hiroshima de Vinicius de Moraes e Cântico dos Cânticos e Evangelhos

Instituição usa a música para resgatar a cidadania

A Casa Taiguara de Cultura oferece uma série de oficinas musicais para as crianças e adolescentes atendidas pelas Casas Taiguara. Além dos jovens que residem na instituição, a partir do próximo dia 15, as crianças do bairro da Bela Vista (onde está localizada a Casa), também poderão fazer as aulas, independente de residirem ou não em algum dos abrigos da instituição.
No leque de opções, estão aulas de percussão nordestina, Hip Hop, violão, cavaquinho e discotecagem.

Segundo Renee Amorim, coordenador de projetos da Casa Taiguara de Cultura, o principal motivo da existência destes cursos é poder “disponibilizar novas vivências, contribuir com a formação de cada um, e muitas vezes despertar uma consciência maior de vida”. E continua: “É importante destacar que as novas vivências, os vínculos com os professores, com a instituição, ou com outros colegas, fazem parte do ensinamento. Muitas vezes eles chegam sem esperanças, sem sonhos, e nós temos a preocupação de inseri-los novamente na sociedade, e fazê-los perceber que existe alguém que realmente se preocupa com eles”.

Por Priscila Ramires e Caroline Zeine


Música é estímulo para desenvolvimento de jovens, acredita Murilo Alves

Murilo Alves, coordenador pedagógico do Projeto Ciranda, fala sobre o aspecto institucional do trabalho de inclusão pela música e enumera os desafios que os profissionais enfrentam. Empenhados em garantir uma ocupação para as crianças e até mesmo ajudá-las a descobrir suas vocações, já que segundo Alves muitas delas se tornam artistas, os profissionais do Projeto Ciranda geram resultados, fruto do trabalho intenso e apaixonado de profissionais que amam suas causas.
Veja abaixo trechos da entrevista realizada com o coordenador pedagógico do Projeto Ciranda:

Quais mudanças são observadas após o trabalho sistemático com música?

R: A atividade musical traz consigo uma série de possibilidades de estímulo ao desenvolvimento do aluno, isso ao longo do período de aprendizado é transmitido ao mesmo,de modo que temos observado jovens se desenvolverem enquanto artistas e de modo geral como pessoas melhores, mais conscientes de sua atuação no mundo. Isso é difícil de ser medido, não desenvolvemos ferramentas pra isso, entretanto os resultados do projeto aliado ao entusiasmo dos pais é um bom indicativo de que trilhamos um caminho seguro.

A idéia da integração através da música é um projeto social ou tem vista à formação profissional dos jovens?
R: Buscamos unir as duas possibilidades, o aluno tem a iniciação através de classes de ensino coletivo (sopro, percussão e cordas) e no segundo ano, dependendo de seu desenvolvimento, passa a ter aulas individuais. A partir do momento que detectamos o interesse do aluno em profissionalizar-se, procuramos dar as condições necessárias.

Qual o perfil dos profissionais que trabalham nos projetos?
R:De modo geral procuramos identificar profissionais que buscam um espaço para desenvolver seus projetos, não apenas pessoas que serão um funcionário do projeto. Em especial no primeiro ano de curso (ensino coletivo) trabalhamos com educadores musicais com graduação em licenciatura em música.


Qual o maior desafio para um profissional que produz trabalhos sistemáticos, como o senhor faz, com crianças e jovens carentes?
R:Na parte de gestão é buscar soluções para questões ligadas à sustentabilidade.
Na parte do ensino é buscar desenvolver ferramentas e metodologias que propiciem uma apresentação significativa do teor música para os alunos, independente da idade “musical” de cada um. Se este objetivo é alcançado inúmeras possibilidades estarão agregadas.
Por Flávio Luz e Caroline Zeine

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Entrevista com José de Oliveira Santos

José de Oliveira Santos é professor de História e Educador Popular. Em entrevista concedida ao nosso grupo, falou sobre questões que permeiam o trabalho com crianças e jovens carentes, fez uma análise dos atuais programas nesse sentido e traçou perspectivas para o trabalho de inclusão desse público, que constitui, literalmente, o futuro da nação. O professor acredita nas atividades culturais como sendo um dos melhores mecanismos para o cultivo de valores como amizade, cooperação, respeito, tole-
rância, entre outros, fatores ligados diretamente à cons-
trução da cidadania; e quando questionado sobre o maior desafio na vida de um profissional que trabalha com crianças e jovens carentes,é enfático: “é a falta de entendimento por parte da maioria dos adultos, em especial daqueles que detém maior poder político e/ou econômico, a respeito da necessidade de se criar mais condições e oportunidades para que as crianças, adolescentes e
jovens brinquem, experimentem as diversas linguagens artísticas, façam festa, enfim, celebrem a vida!” E é exatamente isso que o professor José tem feito há vinte anos: celebrado a vida, com todo o encanto que esse tipo de iniciativa tem a proporcionar.
Confira abaixo a entrevista na íntegra com o professor José de Oliveira Santos*:


Qual foi a motivação que o levou a trabalhar com projetos beneficientes?
Vivi a minha adolescência no Rio de Janeiro, de 1969 a 1982, e quando pensava sobre o meu projeto de vida, uma das questões fundamentais a que me propus em certo momento foi me somar a pessoas e instituições que estivessem lutando para construir um mundo mais justo. Esta definição foi muito importante para mim, porque no período da adolescência somos convidados a aderir a todo tipo de grupo e para não ficarmos perdidos, confusos ou por terminar sendo envolvido em situações difíceis, faz-se necessário descobrirmos um norte. Nas décadas de 70 e 80, parcela expressiva da igreja católica no Brasil estava comprometida em palavras e com ações na luta pela democracia e direitos humanos e isso me ajudou bastante em termos da vivência prática e teórica, participando de grupos de jovens e mantendo contatos com algumas comunidades eclesiais de base em São João de Meriti (inicialmente ligadas a Diocese de Nova Iguaçu e posteriormente sob a jurisdição da Diocese de Duque de Caxias).

A construção da cidadania está intimamente ligada à cultura de modo geral. Fale um pouco sobre essa relação.
Falando em termos da construção de uma cultura de paz, a qual está bastante próxima dos ideais que norteiam aqueles que lutam pela construção da cidadania, está claro que todos querem cultivar valores como amizade, cooperação, disciplina, respeito, criatividade, tolerância, alegria e etc. Por esses motivos, a prática de atividades artísticas/culturais, conforme alguns estudos e pesquisas tem demonstrado, é um dos melhores mecanismos para o cultivo dos valores pelos quais tanto ansiamos e que caso continuem neste decadência que aí está, serão motivo de muito mais infelicidade e sofrimento para toda a sociedade.


Estamos falando de inclusão através da cultura. O senhor poderia nos falar um pouco sobre o Projeto Reculturarte? Quais atividades eram desenvolvidas e para que público?
No ano de 1983, então com 18 anos de idade, recém chegado a Aracaju, ajudei a organizar a Associação dos Moradores e Amigos do Bairro América e com poucos recursos assumi a tarefa de agrupar adolescentes e jovens em torno do teatro. Depois de alguns anos com apoios pontuais da prefeitura, passamos a contar com oficinas de capoeira, artesanato, dança e projeção de filmes. Vale ressaltar a permanência da capoeira que foi o grupo cultural que permaneceu em atividade constante durante mais de dez anos.Com o acúmulo da experiência e a partir da consolidação da parceria com professores e estudantes da Universidade Federal de Sergipe, foi elaborado no ano de 1990 o projeto Reculturarte, que consistiu na organização de oficinas culturais permanentes de teatro, dança, capoeira, música, além do reforço escolar e da escolinha de futebol.Também tivemos momentos especiais de formação, envolvendo dezenas de adolescentes e os jovens educadores em “retiros” nos dias de feriados prolongados em escolas, sítios de amigos e/ou espaços ligados a Igreja Católica. Outro momento bastante especial era a realização do festival anual, onde se apresentava o resultado dos trabalhos das oficinas e alguns artistas e grupos culturais convidados. O projeto Reculturarte existiu até o ano de 1998 e contou com o financiamento das agências de cooperação internacional - Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e Visão Mundial, esporadicamente contou com a ajuda do Unicef/Criança Esperança e Assembléia Legislativa.


Qual o significado da realização de um projeto cultural em um país que de certa forma monopoliza apenas um certo tipo de segmento de cultura na mídia, a cultura do espetáculo?
"O significado da realização dos projetos culturais é combater a tentativa de empobrecimento ético e estético que a industria cultural nos impõe". Pelo fato de visar tão somente o lucro imediato, aqueles que investem nas redes de televisão, rádio, artistas e bandas estão muito pouco preocupados com o cultivo dos valores humanos que citei anteriormente e acabam sendo co-responsáveis da violência que impera em nossa sociedade. Embora isso não seja tão evidente para a maioria das pessoas.

Qual é o maior retorno que uma pessoa pode ter ao trabalhar com este tipo de projeto?
Em termos de retorno pessoal e imediato, eu garanto que o tédio, a solidão e até mesmo depressão estarão bem distantes de quem trabalha com este tipo de atividade.

Na sua opinião, o que falta em termos de legislação que poderia aproximar os investidores, a cultura e o público final, neste caso as crianças e jovens carentes?
Em termos de legislação o país está evoluindo, como o município de São Paulo que criou a lei municipal que instituiu o Programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais) cujo objetivo é apoiar com um pequeno subsidio financeiro, atividades culturais de grupos juvenis que atuam na periferia. Outra ação que merece os mais altos elogios são os CEUs (Centros Educacionais Unificados), com esta proposta, São Paulo pode redimir as experiências frustradas de Anisio Teixeira (Escolas Parque) e Darcy Ribeiro (CIEPS),pois com certeza se estas duas propostas de educação integral tivessem continuado o Brasil estaria com índices de miséria e criminalidade bastante reduzidos. Os CEUs são tão importantes para quem quer educação, arte e esporte caminhando de mãos dadas, que foram prioridade nos contatos e visitas que realizei por ocasião das duas últimas viagens que fiz a São Paulo, em julho de 2004 para participar do Fórum Cultural Mundial e em janeiro de 2009 para participar do curso Arte e Educação Popular. Também deve merecer atenção especial o Programa Multicultural da Prefeitura do Recife, infelizmente pouco divulgado e estudado e que valoriza a informação, a formação e a profissionalização da cultura como construção da cidadania. Outro programa bastante importante é o Escola da Familia, o qual aqui em Sergipe recebe o nome de Abrindo Espaços e em outros estados Escolas da Paz. No âmbito federal temos o Programa Cultura Viva-Pontos de Cultura que repassa um subsidio financeiro substancial e com destinação preferencial para projetos culturais que envolvam crianças, adolescentes e jovens da periferia e cidades do interior. Para garantir que o Programa Cultura Viva não sofra descontinuidade e/ou descaracterização, por causa de mudança de governo, está se propondo que os objetivos programáticos e os recursos financeiros sejam garantidos através de lei federal. "O que é preciso garantir além de se tornarem políticas públicas de estado, para não dependerem apenas do interesse e boa vontade do partido que estiver no governo, é o aumento dos recursos financeiros destinados a estes programas e a ampliação do controle social e da transparência no repasse e na utilização deste recursos".

Quais ferramentas o senhor utiliza para manter as crianças estimuladas a buscar cultura mesmo quando estão longe da Instituição beneficiente? Existe algum programa de aconselhamento aos pais?
Distante das atividades cotidianas do projeto, a nossa expectativa é que a criança, o adolescente e o jovem possam escolher outras opções do que aquelas que são determinadas pelos mass media e que acabam por se constituir na “preferência” da maioria dos familiares e amigos.
Já conversamos com alguns adolescentes sobre esse assunto e sabemos que não é fácil, na maioria das vezes a família possui só uma televisão, principal instrumento de acesso a cultura por parte de parcela expressiva da sociedade, e em especial no horário noturno é mais difícil assistir outro canal diferente que não sejam aqueles que tem nas novelas o carro-chefe da programação.
Por outro lado, quem não possui antena parabólica, mesmo a que permite acesso gratuito a canais abertos, está com um campo de opções bastante limitado, entretanto a internet e os aparelhos reprodutores de músicas (MP... IPod e etc.) oferecem perespectivas mais animadoras para o futuro.
Quanto ao trabalho de aconselhamento as famílias o assunto está detalhado na resposta abaixo.

Por falar em família, de maneira geral qual a postura dos familiares dessas crianças e jovens?
Em relação ao trabalho com os pais, no Projeto Reculturarte mantínhamos reuniões bimestrais com uma parte deles. Infelizmente a maioria não participava destas reuniões, mesmo que buscássemos realizá-las com atividades lúdicas e com audiovisual. Os temas das reuniões eram sobre o desempenho dos filhos em termos de crescimento e limites e, em alguns momentos, convidamos profissionais ligados as areas da psicologia, religião, direito e medicina.
Alguns pais, em número bem mais reduzido, assistiam aos ensaios e treinos e participavam das viagens para os retiros e para apresentações. Em alguns momentos foram realizadas cursos de alimentação e medicina alternativa com as mães/pais e passeios recreativos, estas três últimas atividades contaram com uma frequência maior. Havia também festas juninas e de Natal e que contavam com a presença de uma parte das famílias.

O senhor já esteve envolvido com ONGs. Como é desenvolver um trabalho que não conta com subsídios públicos?
O trabalho com ONGs é difícil e requer muita paciência, perseverança e estudo. Uma das estratégias que recomendo para quem quer trilhar por este caminho é estar bem atento em “casar” o seu gosto pessoal com as necessidades das pessoas com as quais você pretende trabalhar. Por exemplo, se você gosta de arte e cultura, como é o meu caso, e entende que isto é necessário para melhorar as pessoas e o mundo, é fundamental que você se aproxime de pessoas e grupos que compartilhem desta opinião e que já estejam realizando algo neste sentido. Mesmo que o trabalho esteja sendo feito no campo individual, por exemplo, mesmo que seja um grupo de estudantes universitários do curso de comunicação ou do curso de artes ou que estejam participando de oficinas ou cursos de curta ou média duração em artes ou comunicação e que nunca tenham ido para o campo.
É necessário também leituras, seminários e oficinas ligados a assunto de legislação e gestão do terceiro setor e é recomendável se juntar a ONGs e/ou pessoas que já tem ou tiveram experiência em atividades de voluntariado e/ou ativismo social ou cultural para aprender com gente experiente como se deve atuar e ás vezes até mesmo como não se deve.
"Importante é não esperar,estar pronto para iniciar o trabalho com o grupo ou comunidade, porque muita coisa é aprendida no dia-a-dia mesmo e o que importa inicialmente, no caso do exemplo de quem deseja trabalhar com ação cultural, é perceber se arte e cultura são elementos que mobilizam quereres, saberes e fazeres de um certo grupo de pessoas marginalizadas. Caso seja possível a realização do casamento, então mãos a obra!"

O que o senhor diria no sentido de tentar conscientizar as pessoas da importância de desenvolver trabalhos em prol da comunidade carente?
Quem dera pudesse todo homem e (todas as mulheres) compreender oh! Mãe, Quem dera! Que o mundo precisa de gente que sejam as mãos, os pés, os olhos e o coração feminino de Deus que sofre por causa de tanto egoísmo, cobiça e ódio, fonte de tanta dor e sofrimento e que poderá tornar irreversível a existência das obra de arte de Deus - a terra, o ser humano e as outras espécies com as quais compartilhamos o planeta.
Que entendamos, o começo da solução está em nós e o começo passa pelo nosso coração, mas para isso necessitamos ser alimentados e produzirmos obras de arte que nos transmitam este amor maternal de Deus e o desejo dele de recriarmos o paraíso agora e refazermos o mundo como um jardim de mil delicias.
Quem dera pudesse todo homem e (todas as mulheres) compreender oh! Mãe, Quem dera!
Que para vermos Deus face a face a solução está em nos tornarmos cada vez mais humanos, porque foi a lição mais importante que seu filho Jesus nos legou, quando afirmou que ao dar de comer e de beber a quem tem fome é a Jesus Cristo que estamos saciando. Quando cuidarmos dos doentes e das crianças e dele que estamos cuidando. Quando visitarmos os presos é a Jesus Cristo que estamos visitando.
Que mais homens e mulheres possam encontrar Deus através do serviço do atendimento das necessidades humanas de todas as criaturas, como fez Jesus Cristo ao operar milagres, considerando que as carências humanas não são apenas de ordem material e aqueles que tem mais tempo, bens materiais, conhecimento ás vezes precisam de afeto, carinho, atenção e estas necessidades são satisfeitas ao abrirem mão de uma parte do seu tempo, dos seus bens materiais e dos seus conhecimentos.
Um dia vivi a ilusão que o mito do progresso material, ás vezes manipulando o nome de Deus, tudo me daria. Também vivi a ilusão que somente a explicação racional e cientifica do mundo é suficiente para dar conta de tantos segredos e mistérios escondidos dentro do meu ser e no universo.
O Deus que habita em mim, cumprimenta o Deus que está em você, não importa em qual nome você o cultua, não importa nem mesmo se você tem fé, se demonstrares em ações o seu amor pela humanidade, pelos seres vivos e pelo planeta, Deus habita em você e eu os reconheço através de suas atitudes “humanas”, para mim e para Deus é o que faz sentido.

Ao escrever este texto lembrei-me das seguintes obras de arte: Guernica de Picasso, Super-Homem de Gilberto Gil, Sol de Primavera de Beto Guedes, Canção de Hiroshima de Vinicius de Moraes e Cantico dos Cânticos e Evangelhos

*Professor de História e Educador Popular. Com 20 anos de experiência no trabalho com comunidade, mais conhecido como Zezito, iniciou a sua participação social, ainda adolescente, no Rio de Janeiro. quando participou de grupos de jovens e CEBs. No Estado de Sergipe participou da fundação da Associação dos Moradores do Bairro América (AMABA) e do Centro Sergipano de Educação Popular. Durante o período que esteve na AMABA coordenou o Projeto Reculturarte, que foi financiado durante seis anos pela agência de cooperação Visão Mundial e que se constituiu na primeira ação cultural permanente de uma entidade ligada ao movimento social. No período de 2001 até 2006, assessorou de forma voluntária o Projeto Ecarte ( Estatuto da Criança e do Adolescente com Arte) na área pedagógica e de gestão, Fez/faz formação em danças circulares. É um dos fundadores e foi diretor-presidente da ONG Ação Cultural (2004-2007). Atualmente é diretor do Complexo Cultural "O Gonzagão", equipamento cultural pertencente a Secretaria da Cultura do Estado de Sergipe (http://acaoculturalse.blogspot.com/).

domingo, 5 de abril de 2009

Peixes cidadãos



Estivemos também em março na primeira edição do evento Peixada, promovido pelo Taiguara Social Clube, divisão das Casas Taiguara.
Instalada no bairro do Bixiga, em São Paulo, a Casa de Cultura Taiguara foi o palco deste evento beneficiente.

Na pick up comandada pelo Dj Niggas, o set list era composto de soul music, samba e clássicos, que embalavam os convidados. Para fechar o evento, houve apresentação do grupo de samba Madalena.

O curioso nome da festa é explicado pelo coordenador dos projetos da casa, Renée Amorim, que resolveu convidar os amigos nascidos sob o signo de peixes para comemorarem juntos a data, celebrada em prol dos jovens carentes.

Em outra ocasião, na qual tivemos a oportunidade de conversar com Renée sobre o trabalho desenvolvido nas Casas Taiguara, ele nos disse: “nosso maior objetivo é fazer com que as experiências adquiridas por estes meninos e meninas tragam novos frutos, novas vivências, e que eles se sintam acolhidos e amados, esse é nosso maior propósito”.

Objetivos estes que podem ser exemplificados através dos meninos Dalvan (18) e Diego (18), que trabalharam no bar da festa e nos contaram sua experiência: ambos vivem na República Jovem Taiguara instalada no bairro do Butantã, um projeto diferenciado que abriga aqueles que já passaram da maioridade e os auxilia na reintegração à sociedade. “A República está nos dando uma chance de ser alguém e sonhar”, diz Diego. Renée continua: “O importante é fazer a diferença na vida desses meninos, queremos tocar seus corações de alguma maneira”.

Devido ao grande sucesso da primeira edição da Peixada, o Taiguara Social Clube irá promover todos os meses uma festa diferente.

Com dezesseis anos de existência, as Casas Taiguara congregam seis unidades espalhadas pela grande São Paulo que acolhem crianças e adolescentes dos 4 aos 17 anos que se encontram em situação de risco nas ruas ou dentro de suas próprias casas. Para conhecer mais sobre o projeto acesse:
www.casataiguara.org.br

Por Flávio Luz e Priscila Ramires

segunda-feira, 30 de março de 2009

Batuques de energia


Na última sexta-feira estivemos na Instituição Meninos do Morumbi, situada à Rua José Janarelli. Confesso que tivemos que esperar um pouco quando lá chegamos, sentadas num banco de madeira disposto em frente à casa (diga-se de passagem uma construção muito bonita!). Mas a percepção de que veríamos algo encantador tornava aquela espera um caminho rumo ao ápice da felicidade. Nas proximidades da Instituição, paramos numa padaria para tomar um suco e nos informar com o segurança como faríamos para chegar lá. Ele apenas disse: “É logo ali mais a frente, não tem erro. Vocês já viram algum ensaio do Meninos do Morumbi?” Ao que respondemos: “Não, será a primeira vez!” e de pronto ele disse: “É coisa linda demais, vocês logo vão ouvir as batucadas dos tambores, é pura energia”.
E dessa forma, prosseguimos no nosso caminho rumo ao local. Conforme previsão do segurança da padaria,fomos assistir ao ensaio dos jovens, que dançavam ao som de ritmos africanos, samba, música popular e alguns hits bem conhecidos de bandas como Jota Quest e Legião Urbana.
Posso dizer que fomos surpreendidas...afinal, a experiência teve um grande apelo. Fomos tomadas por uma sensação que pode ser traduzida como misto de sentimentalismo e beleza. Sim, os jovens contorciam-se, pulavam, alguns cantavam e outros tocavam tambores. Mas havia algo comum a todos naquela sala: a expressão de alegria real e duradoura, o tipo de “felicidade desinteressada”, se é que este termo existe. Desinteressada pois não havia ali subterfúgios que pudessem servir de pretexto para um sorriso ou cortesia. E diga-se de passagem, havia cortesia naquele lugar. Basta lembrar da garota para a qual perguntamos pela coordenadora pedagógica e ela respondeu: “Ela está lá embaixo. Mas pode deixar que vou lá chamar!”. E assim foi.
Durante aproximadamente uma hora e meia não conseguíamos tirar os olhos das performances. E logo já próximo de terminar o ensaio, os garotos (e garotas) iniciaram uma apresentação solo, o que lembrava muito os círculos de capoeira. Coisa linda de se ver. Quando saímos rumo ao ponto de ônibus que nos conduziria até nossas casas, ficou a certeza de uma coisa: “energia, na sua forma mais pura e contagiante”.
Por Caroline Zeine e Stefanie Francine

sábado, 21 de março de 2009

Olá, estamos inaugurando o blog Sons da Cidadania que vai trazer matérias sobre Instituições e profissionais que promovem a inclusão social de jovens carentes através da música.
Afinal, para além da função de educar, a cultura é ferramenta indispensável na concretização de tal feito.
Se alguém ainda duvida, bem-vindo ao Sons da Cidadania!